Tarô, da contravenção ao reconhecimento
Os Mistérios
Entre os mistérios, se impõem aquele que assenta as questões sobre a sua origem. Trabalhos existem que mostram indícios dos mais variados afirmando “quando” e “onde” nasceu o Tarô, mas não há um somente com evidências claras que comprovem seus escritos. Há quem afirme que suas lâminas foram desenhadas por uma civilização antiga com o objetivo de passar uma ciência restrita somente para os Iniciados. Há quem diga que o baralho nasceu apenas para divertir os nobres da Europa.
Outro mistério: Os desenhos das cartas mais antigas do Tarô carregam uma enormidade de sinais e símbolos que, associados às diferentes influências no comportamento humano, só poderiam ser imaginados por pessoas (ou seres) com profundo conhecimento das muitas ciências ocultas. Quem poderia ter criado este material? Quem poderia ter, depois de criado, oferecido este material a uma sociedade específica? É possível essa hipótese?
Existem outros mistérios na história do Tarô, mas um verdadeiramente intrigante é o fato de que suas lâminas revelam. Isso mesmo, suas lâminas revelam e provocam reflexões!
Os charlatães e seus crimes
Com o fardo dos mistérios que provocam curiosidade, medos e bloqueios, a história do Tarô, durante séculos, ainda vem recebendo uma carga de ocorrências de charlatanismo que bem se fundamenta em ações de indivíduos inescrupulosos que objetivam apenas se aproveitar das boas intenções e das carteiras dos incautos. Existem até hoje, charlatães no Tarô e existem seus incautos.
Isso tudo já seria suficiente para se afastar das cartas do Tarô? Para muitas pessoas, sim, sem dúvida!
Fato é que, a cada dia, mais e mais pessoas se debruçam sobre os "decks" do Tarô e consultam os Tarólogos! É fato que a sociedade, como um todo, embora não domine o conhecimento sobre o Tarô, aceita-o como algo positivo pelos benefícios que gera. Guardando-se as devidas proporções, vale uma comparação: O desconhecimento sobre a base da fabricação de um medicamento ou sobre um diagnóstico avançado de um exame de última geração, não nos afasta de tais progressos por não entendermos plenamente tais ciências. Da mesma maneira, os charlatães que se dizem farmacêuticos e médicos exercendo ilegalmente tais profissões não nos afastam dos profissionais sérios.
Os preconceitos
Reconheçamos que muito do preconceito nasce com a visão leiga sobre os muitos desenhos das cartas do Tarô. A imagens podem até chocar os não estudiosos que diante, por exemplo, das lâminas da Morte, do Enforcado, da Torre e do Diabo, fazem suas próprias e erradas interpretações, antes do seu afastamento de tudo que esteja associado ao Tarô.
O preconceito também nasce de casos evidentes de charlatanismos que afastam muitas pessoas. Nasce de frustrações as quais as pessoas são levadas inicialmente a acreditar que as cartas do Tarô recuperam amores perdidos, arranjam os melhores e mais ricos encontros amorosos, fazem o chefe arrumar uma promoção com o melhor salário da empresa entre outros “milagres”.
Ainda tratando do preconceito, existe quem tenha o interesse de afastar as pessoas da sabedoria expressa pelo Tarô e de suas revelações. Isto fica claro em guias religiosos e é observado em artigos e vídeos dedicados a fazer do Tarô uma prática do Mal exercida por pecadores. Também se observa nas reações destemperadas e nos ataques escritos e verbais que os estudiosos do Tarô sofreram e ainda sofrem até mesmo pelas redes sociais.
Preconceito só se vence com informação e verdade. Ainda há muito o que fazer nesse sentido e este é mais um fardo que ainda carregam os Tarólogos nos dias de hoje.
A contravenção penal
Até 1997, no Brasil, tarólogos eram considerados contraventores e iam para a cadeia. Iam aqueles charlatães de fato que dividiam a cela com outros estudiosos do Tarô que manuseavam suas lâminas e faziam suas leituras para fazer o bem para as pessoas. Todos juntos “misturados no mesmo saco”. Isto pelo Decreto-Lei 3.688, de 3 de outubro de 1941 – Lei de Contravenções Penais. Junto com os Tarólogos, também “no mesmo saco”, estavam aqueles que interpretavam sonhos e dedicavam-se à astrologia. Misturados, é claro, com os charlatães!
Almino Afonso, deu entrada em 20 de março de 1996, um pedido de revogação do o artigo 27 do Decreto-lei 3.688, de 3 de outubro de1941 - Lei das Contravenções Penais. Dizia o referido artigo: “"Explorar a credulidade pública mediante sacrilégios, predição do futuro, explanação de sonho ou práticas congêneres: pena de prisão simples de um a seis meses, e multa".”
A leitura, na íntegra, do pedido de revogação é muito interessante, mas para aqueles que não desejam mergulhar em detalhes, pincei algumas partes do texto.
Na justificativa da revogação, defendendo aqueles que interpretam os sonhos, vemos: “A explicação dos sonhos, a rigor, não é mais do que um método através do qual o paranormal mergulha no amanhã”.
Quanto aos astrólogos, diz o texto: “A astrologia, no dizer de Dane Rudhyar, é "uma técnica de conquista da sabedoria, através da compreensão da ordem existente na natureza humana e em todos os fenômenos percebidos pelo ser humano: é uma técnica para a compreensão" . Os horóscopos, que resultam dos estudos astrológicos, remontam a séculos. Newton - "possivelmente a maior inteligência científica que já houve, pelo menos na civilização
ocidental" - também se dedicava à elaboração de horóscopos”.
Quanto aos Tarólogos: “o tarô, por sua vez, se caracteriza como técnica milenar de associação simbólica entre as várias imagens de um ou mais tipos de "baralhos" e o comportamento humano. A associação das diversas imagens permite uma orientação individual, pois o intérprete usa as cartas do tarô como um meio de colocar o passado numa perspectiva mais significativa, de compreender o presente e de revelar as alternativas que possam existir no futuro.”
Outra parte da justificativa apresentada por Almino, diz: “A parapsicologia é considerada verdadeira ciência, os métodos de consulta milenares do futuro como o Tarot , o I-Ching e as Runas são considerados poderosos instrumentos de orientação pessoal e respeitados pelas mais tradicionais correntes da psicanálise. Basta que se leia a obra de Carl Gustav Jung sobre o tarot ou o I-Ching para percebê-los não como meras superstições, mas manifestações históricas dos mitos, verdadeiros orientadores da psique em busca da auto integração”
A Lei nº 9.521, de 27 de novembro de 1997, assinada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, revogou o artigo 27.
O reconhecimento da sociedade
As revelações extraídas das cartas dos Tarólogos são a melhor das respostas a um enfretamento, mas o reconhecimento da sociedade já está explícito pela legislação brasileira também no campo profissional, pelo Ministério do Trabalho.
O Tarólogo como atividade profissional está devidamente tratado no Código Brasileiro de Ocupações (CBO) titulado pelo código 5168-05 – Esotérico. Na descrição sumária consta: “Orientam pessoas e organizações, elegem momentos e locais por meio de oráculos ou de dons de paranormalidade. Podem ministrar cursos”.
Cuidado, em Nova York é diferente
É razoável que em muitas cidades do mundo, ainda existam leis que punem tarólogos; ainda muito existe de barreiras culturais e religiosas construídas no sentido de impedir a prática do Tarô. Isso acontece até mesmo em Nova York, a cidade americana conhecida como capital do mundo, onde atualmente a cartomancia é crime, onde a previsão do futuro é uma contravenção à luz da lei.
Esse paradigma também será derrubado em Nova York, com certeza. Previsão? Não, lógica, simplesmente; será somente uma questão de tempo...

O trabalho "Tarô, da contravenção ao reconhecimento" de Santarem Tarô está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.

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